VINCE SOUZA

As entrevistas desta seção foram realizadas para dissertação de mestrado de Ramiro Quaresma da Silva, idealizador e curador do site, para o Programa de Pós-graduação em Artes (PPGArtes) do Instituto de Ciências da Arte (ICA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), intitulada “O site cinematecaparaense.org e a preservação virtual do patrimônio audiovisual: uma cartografia de vivências cinematográficas”.

vinceENTREVISTA COM VINCE SOUZA – AGOSTO 2014 – via e-mail

Seu nome completo, local e data de nascimento.

Vinicius Corrêa de Souza, Belém, 04 de maio de 1978.

Fale sobre sua formação teórica, técnica e prática em cinema.

Em 2004 quando entrei na UNAMA no Curso de Artes Visuais e Tecnologia da Imagem. Eu era apenas uma pessoa que gostava de cinema, mas sem nenhuma experiência. Eu conhecia os filmes, seus diretores, atores, atrizes, trilhas, pais de origem, ano de produção e enfim, minha única formação que é o habito de ver filmes sempre. Eu vim do desenho e queria muito fazer quadrinhos. Em 2004 eu fiz o meu primeiro storyboard que foi para uma performance intitulada “Os Sombras” envolvendo a ideia da Pop Art. O que eu já tinha e adquiri em 2004 eu juntei em 2005 quando comecei a minha formação teórica. Aprender planos, enquadramentos, ângulos, algo muito usado no desenho na linha do ponto de fuga e de perspectiva e claro e escuro muito usado na fotografia foram fundamentas quando fiz um documentário sobre Arte e Tecnologia que foi um trabalho de História da Arte. Ainda em 2005, tinha uma outra disciplina envolvendo videoarte e foi quando entrei pela primeira vez em uma ilha de edição e foi a partir daí que começou minha formação técnica onde comecei a fazer animações em mesas de luzes e continuo em 2006 e 2007 fazendo ainda storyboards e escrevendo roteiros, iniciando a minha paratica em cinema. Nos 4 anos de curso em tive a minha primeira parceira de vídeo que foi a Carol Matos, irmã de Ana Clara Matos. Em 2008, comecei a trabalhar ainda na animação com outras pessoas que já estavam na área do audiovisual até 2010 quando formei uma nova parceria com Bianca D’Aquino aonde conheci na Caiana Filmes e formamos o Cafè, Cinema e Quadrinhos, e em 2011 fiz o meu primeiro live action. Continuei a trabalhar com outras pessoas mas sem esquecer de fazer as minhas produções. O que também serviu e serve até hoje de formação para são os Cine Clubes que frequentou desde 2010 e a participação de oficinas. Paraticamente eu dirijo, escrevo, faço storyboard e ainda me envolvo na produção e edição de meus trabalhos. Além do Café Cinema e Quadrinhos, eu também faço parte do Quadro a Quadro, formado em 2012. Posso dizer que hoje me considero um Desenhista e Cineasta – DC, rsrsrsrs.

Você já visitou, pesquisou ou assistiu filmes em uma cinemateca ou arquivo de filmes?

Sim, quando adolescente. Eu já assisti filmes na cinemateca do CENTUR e ainda tive a oportunidade de levar filmes para ver no espaço. Isso tudo quando eu não estava na Gibiteca.

Quais suas principais referências na criação cinematográfica? Alguma do estado do Pará?

De referencias, o principal é o cinema expressionista alemão. O cinema experimental também. Algumas animações em 2D e videoclipes. Não tenho referencias do cinema paraense. Busco em minhas produções fazer ao universal. Ou seja, uma história que pode acontecer em qualquer lugar. Nada contra o regional.

Quais foram suas realizações, e também participações em produções, em cinema e audiovisual? E no momento atual?

Comecei na animação. Minhas realizações foram: “Despetalar” (animação, 2005); “Figurinhas do Cinema” (animação, 2005); “Sociedade 60 Segundos” (vídeoarte, 2005); “Sangue Sollo (animação, 2006); “Controle Remoto” (videoclipe de animação da banda Sinestesia, 2007); “O Dia Seguinte” (experimental, 2011); “Espelho e Silêncio” (experimental, 2013); “Eu Do Ato” (experimental, 2014) e “VHQ” (documentário, em produção).

Minha participação com outros realizadores foram: animação complementar em “Muragens, Crônicas de um Muro” (animação 2D, 2008) e “Nossa Senhora do Miriti” (animação 3D, 2009), ambos de Andrei Miralha; storyboard e o designer de boneco de “Eclipse” (animação stopmotion, 2010), de Laercio Cruz Esteves e Walério Duarte; storyboard de “Certeza” (ficção, 2012) de Pedro Tobias; e storyboard de “Atraves da Alma” (ficção, 2014), de Alexandra Castro.

Quais os principais festivais e mostras que já participou?

2005 – “Despetalar” na II Mostra do Curso de Artes Visuais da UNAMA;

2005 – “Figurinahs do Cinema” no Festival Demonstração (premiado na categoria videoarte);

2005 – “Sociedade 60 segundos” no Salão de Arte Ananin na ESMAC;

2006 – “Sangue Sollo” na III Mostra do Curso de Artes Visuais da UNAMA;

2009 – “Controle Remoto” na VI Mostra do Curso de Artes Visuais da UNAMA (convidado);

2010 – Selecionado no primeiro edital da fotoativa de videoarte com “O Dia Seguinte”

2011 – “O Dia Seguinte” no 17º Salão Pequenos Formados;

2011 – “O Dia Seguinte”, selecionado na Festival II Noites com Sol;

2012 – Sessão Daqui no Sesc Boulevard com as produções “O Dia Seguinte”, “Controle Remoto”, “Sangue Sollo” e “Figurinhas do Cinema”;

2012 – “O Dia Seguinte” no II Cine Periferia Pai D’égua (premiado melhor curta metragem paraense);

2013 – “O Dia Seguinte” no IV Festival de Cinema de Curta Amazônia;

2013 – “Espelho e Silêncio” no IV Festival de Cinema de Curta Amazônia;

2013 – “Espelho e Silêncio” na II Mostra do Auadro a Quadro no Sesc Boulevard;

2013 – “Espelho e Silêncio” na I Mostra de Coletivos Independentes de Belém no Cine Olympia;

2013 – “Espelho e Silêncio” no I Festival Audiovisual de Belém – FAB (indicado nas categorias melhor fotografia e melhor curta pelo júri popular);

2013 – “Espelho e Silêncio” no Festival Tomarrock em Roraima;

2014 – “Eu Do Ato” no II Festival Audiovisual de Belém – FAB (premiado com menção honrosa de melhor curta experimental e indicado melhor curta pelo júri popular).

Onde estão guardados seus filmes, material bruto e cópia final? Onde os pesquisadores podem encontrá-los?

Todos os meus trabalhos estão disponíveis na web no youtube e blogs:

Decompor: www.vincesouza.blogspot.com

Café,Cinema e Quadrinhos: www.cafecinemahq.blogspot

 Com exceção de “Eu Do Ato” e o documentário “VHQ” ainda em fase de produção não estão disponíveis na web. Material bruto de desenhos feitos das animações, fitas mini-dv, stills, storyboards, roteiros e material bruto estão comigo e com parceiros trabalharam  nos projetos.

Como você observa o cinema e o audiovisual paraense contemporâneos?

Bom, para começar eu não gosto muito do termo “contemporâneo”, prefiro o termo moderno. Já as produções locais têm o seu lado positivo e o seu lado negativo.

A troca de ideias em Cine Clubes e Oficinas geram várias parcerias.

O lado positivo: com acesso a web e câmeras digitais facilitam ainda mais em se fazer filmes. Sendo sozinho ou formando uma equipe. E quando estes trabalhos estão prontos, fazer amostras ou escrever em editais ou postar da web.

O lado negativo: assim como nas artes visuais, na área de cinema ainda há muitos realizadores que não sabem receber criticas negativas. Eu digo que se não sabe receber critica negativa, então não esta preparado para fazer.

Falta de reconhecimento de pessoas que fazem bem o seu trabalho mais não são chamadas por que não se entendem com o diretor ou produtor do filme. Ou seja, leva tudo para o pessoal.

Em algumas oficinas onde é exigido currículos, muitos não são selecionados por que não possuem experiências. Não há o hábito de dar uma chance aquela pessoal em trabalhar. Pelo menos observa como funciona um set de filmagem. Acham que essas pessoas não selecionadas vão atrasar o andamento da oficina ou da produção. 

Não vejo muitos animadores em oficinas relacionadas a direção, roteiro e produção. Muitos animadores aqui se consideram mais mão de obra para gerar um produto. Nada contra. Mas tenho certeza que há animadores que pensam em  dirigir e escrever suas animações. Não vejo diferença entre cinema e animação.

Na área de publicidade, nada contra suas produções ou quem faz mais o que eles fazem não é cinema mesmo estando incluídos no audiovisual. Sinto que falta neles o hábito de verem filmes.

Na questão de atuação, a maioria vem dos atores e atrizes vêm do teatro, e eles já vêm carregados de teatro para o cinema e isso me incomoda. Ok, tinha muito isso no cinema expressionista alemão aquilo fez parte daquele movimento. Eu busco espontaneidade. Não tenho nada contra teatro é bom é bom separar o que é cinema e o que teatro. Para mim tem poucos atores e atrizes que bons em Belém.

E por fim, o roteiro. São poucos os diálogos espontâneos. Não vejo naturalidade. Mesmo sendo um personagem, ninguém fala certo ou quando você discute com alguém não tem pelo menos um palavrão? Para mim a melhor ferramenta de diálogos está no twitter onde em 140 caracteres escrevem cada coisa. Adoro isso.

 Enfim, é isso.

Como você financiou seus projetos em cinema e qual sua opinião sobre os editais e fontes de financiamento públicas atuais.

Bom, no período da universidade, foi na vontade de fazer animação de qualquer jeito, de experimentar, por isso que digo que o meu cinema é mais para o lado experimental.

A partir de “O Dia Seguinte”, fui premiado no primeiro (e único) edital FOTOATIVA de vídeoarte onde de três selecionados acho que eu fui o único que entregou o trabalho. Este edital não tinha valor em dinheiro e sim em ceder ao selecionado câmeras e fitas minidv’s. a ideia era criar um vídeoarte mais acabou indo para o lado do cinema que também não vejo diferença. Foi o primeiro trabalho do Café Cinema e Quadrinhos.

“Espelho e Silêncio” foi a quarta produção do Quadro a Quadro com roteiro do Café, Cinema e Quadrinhos e foi o primeiro com apoio do IFPA onde nós cederam equipamentos. Já “Eu Do Ato”, a segunda produção do “Café, Cinema e Quadrinhos”, teve apoio do IFPA, Visionário Filmes e Quadro a Quadro. Atualmente, fui contemplado com a bolsa de IAP onde o meu projeto é um documentário sobre a produção de quadrinhos paraenses. Resumindo tudo, a maioria saiu tudo do meu bolso com apoio dos já citados e parcerias entre amigos. É um cinema de guerrilha só que mais planejado. Não gosto de sair gravando sem um planejamento. Eu não ligo muito para rótulos mais como a gente é cinema independente corre um risco de algum dia alguém dizer ou escrever que as minhas produções ou dos grupos que faço parte são filmes “Indies” e eu odeio esse termo por mal usado.

Sua opinião sobre a substituição da película (filme) pelo suporte digital para captação e projeção de cinema.

Honestamente para mim deveria se manter ainda as projeções em películas mas por causa do advento da tecnologia principalmente em formatos 3D. Em Belém, por exemplo apenas os cinemas alternativos exibem ainda em película (Líbero Luxardo, Cine estação e Olympia por poucas vezes). Tentei gravar em Super 8 o “Espelho e Silêncio” mas não rolou. Não sou fã de 3D mais poucos me impressionaram.

Nos Cine Clubes por exemplo são exibidos em datashow. Tenho amigos que não vão a esses espaços por causa da mídia que é projetada. Eles preferem o conforto da casa deles vendo em um aparelho de DVD ou Blue Ray, nada contra, mas só para lembrar que essas atividades não são só realizadas em Belém e sim no Brasil todo e todos em datashow eu vejo muitos senhores que viram filmes antigos em película e estão lá revendo essas obras em outra mídia. As películas estão sumindo mais não estão esquecidas como o vinil e a maquina de datilografar.

Qual sua opinião sobre a web como forma de difusão do cinema? Você tem experiências de compartilhamento de conteúdo autoral nesse meio?

A web é ajuda para o realizador na divulgação de filmes, animações, clipes até para galera da publicidade. Compartilham o link na s redes sociais. Tem o “Festival do Minuto” onde são compartilhados muitos curtas.  Atualmente eu tenho segurado os trabalhos por alguns meses que faço por conta dos festivais que alguns exigem que o filme ainda não esteja na web.

Assim como quando cada um de nós tem uma leitura daquele filme e sim que a obra não é só mais do autor, quando é postado na web se diz: “caiu na net, é do povo”.