CINE PARAÍSO

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 Lembranças do Cinema Paraíso

O local exibia clássicos, tinha bar e recebia intelectuais

Muita gente pode não lembrar mas, com certeza, há de existir quem não esqueça do Cine Paraíso, um cinema que foi inaugurado em meados da década de 50, no bairro da Pedreira. O cinema, que cedeu lugar para a indústria cinematográfica, cresceu tanto a ponto de tomar o lugar e o trabalho de gente como Manoel de Almeida Moreira, um português que veio para Belém com a família e que, se estivesse vivo, completaria 100 anos no próximo dia 25.

Além de uma sala com 1.200 poltronas, o Cine Paraíso também funcionava como um bar, frequentado por intelectuais, políticos e estudantes universitários, que se reuniam em dias de sessão, transformando o bairro da Pedreira, hoje visto como um dos mais violentos, como um dos mais culturais da cidade.

No dia da sua inauguração, o Cine Paraíso exibiu a um público elitizado, incluindo a presença do governador da época, Catete Pinheiro, e do prefeito, Celso Malcher, o filme “Aço de Boa Têmpera”, produzido em 1954 e que contava a história de um jovem e pacífico advogado, Tom Brewster (Will Rogers Jr.), que monta uma loja em uma desordeira cidade do Velho Oeste. Apesar de saber manejar muito bem um revólver, Brewster se recusa em usar a força bruta quando pode usar o cérebro. Porém, ele muda seu modo de pensar quando seu amigo Wally Higgins (Wallace Ford) é assassinado. Ele decide então usar sua perícia para pegar os vilões e limpar a cidade.

Na época, o filme foi um sucesso, segundo a filha de seu Manoel, o dono do cinema. Edi Moreira Bastos, que era criança quando o cinema foi inaugurado, continua morando com a mãe, dona Iracema de Souza Moreira, hoje com 95 anos e cheia de histórias do Cine Paraíso na memória. “Era um cinema de luxo, muito bem frequentado. Hoje, nós só lembramos de tudo e ficamos saudosos. Minha mãe, então…”, diz Edi Moreira, que vive na companhia da mãe.

Edi conta que o cinema tinha a maior tela do Norte do Brasil e que se destacava sempre por exibir filmes recém-lançados. “Os filmes exibidos eram alugados da empresa de Luiz Severiano Ribeiro”, diz, orgulhosa.

Manoel Moreira nasceu em Portugal, em 1912, e em 1927 migrou para Belém no navio Hillary. Já estabelecido por aqui, o português de espírito empreendedor também se destacou por realizar campeonatos de pássaros e grupos juninos, e as famosas e muito bem frequentadas “batalhas de confete”. “Sem falar dos brinquedos que montava no Largo de Nazaré, durante o Círio”, complementa Edi Moreira.

Manoel também é lembrado, não somente pela família, por ter sido o fundador da Escola de Samba Império Pedreirense e do Esporte Clube Pedreirense Santa Cruz.

Pai de dez filhos, sendo que somente sete estão vivos, Manoel Moreira morreu em 1972, deixando sua marca na cultura paraense. E como ele faria aniversário de 100 anos no próximo dia 25, uma missa em Ação de Graças será celebrada, na igreja de Nossa Senhora Aparecida, às 20h, na travesse Barão do Triunfo, no bairro da Pedreira, o mesmo que o português mantinha seus negócios.

YÁSKARA CAVALCANTE

FONTE: ORM

2 respostas em “CINE PARAÍSO

  1. Boas saudades das projeções assistidas no Paraíso. Quando o seu Manoel trocou as cadeiras por poltronas estofadas, as sessões eram interrompidas a cada meia hora; as luzes eram acesas. Ele queria descobrir, com a ajuda de seus empregados, a presença de moleques que ficavam chutando as cadeiras no escuro. Nunca descobriu. E seguia a sessão. Pura e inocente anarquia. Tempo bom, Meu amigo Celso Moreira, dentista e filho do seu Manoel, morreu há pouco tempo.

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